Uma vez eu publiquei essa carta que a Regina Duarte me mandou aqui no blog e prometi contar a história inteira. O tempo passou e eu esqueci o assunto, até ontem quando o Edison Eduardo, que tem um
site muito legal dedicado à Regina Duarte me escreveu querendo saber da carta e da história que eu prometi contar. Lá vai:
Corria o segundo semestre de 1978, eu grávida de 8 meses da Bebel, trabalhando freneticamente na campanha eleitoral que empolgava o Brasil inteiro. A primeira depois da anistia, com um monte de gente legal que há muito não pisava em solo brasileiro concorrendo a vagas de deputados e senadores. Era o tempo do PMDB no seu esplendor! Em setembro, já de licença-maternidade, entrei de cabeça na campanha do então candidato a deputado estadual Fernando Morais (um primo meu muito querido era um dos articuladores da sua campanha) e ficaba boa parte do dia no comitê (na rua Pinheiros, perto do Largo da Batata) ajudando no que era preciso. À noite, eu e o Zé Carlos (pai da Bebel) lotávamos a kombi de santinhos e íamos panfletar na porta de teatros, cinemas, restaurantes. Estávamos à disposição para o que precisasse. Até que veio a melhor das missões: a Regina Duarte se dispôs a gravar um depoimento de apoio ao Fernando só que precisava ser NAQUELE momento. Eu, o Zé e o Luiz Antonio (o tal primo) pegamos o endereço montamos na kombi e voamos pra Lapa felicíssimos com a tarefa que nos coube dessa vez. Foi um custo encontrar a casa naqueles labirintos da Lara. Enfim, chegamos. Uma casa ampla, gostosa, sem nenhum luxo ou nada que lembrasse uma “casa de artista”. Regina nos recebeu de pijama. Juro. Um pijama velhinho, delicioso, desses de ficar em casa. Calça comprida, blusa de manga comprida, mas pijama. Ela nos recebeu com a maior simpatia e delicadeza. Sentamos na sala de estar, ligamos o gravador e ela fez um lindo depoimento que foi repetido à exaustão no horário eleitoral e nos alto-falantes pelas ruas. Antes de irmos embora, a Gabi entrou na sala e foi devidamente apresentada. Se eu já era fã da Regina, depois desse dia virei macaca total.
CORTA
Abril de 1980. Eu recém-separada, Bebel com um aninho e pouco, seguindo à risca as lições da minha ídola Malu Mulher. “Começar de Novo, vai valer a pena…”. Depois de um dos episódios, a emoção era tanta que eu peguei um papel e escrevi uma carta agradecendo à Regina, do fundo do meu coração, o bem que ela estava fazendo às mulheres brasileiras. Mandei a carta pro tal endereço que eu sabia. Nunca obtive resposta.
CORTA
Dezembro de 1980. Depois que eu me separei e resolvi começar tudo de novo, decidi que queria ser uma escritora de verdade e fui à luta. Entrei em grupos de poesia, conheci escritores, participei de concursos, publiquei um livro de poesia com mais 3 poetas com o grande editor da época: Massao Ohno. Faltando uns dias para o lançamento, num domingo à tarde, eu catei o José Luiz Aidar, um dos autores do Quadrívio, coloquei-o no carro e falei: “vamos levar o livro pra Regina Duarte. Quem sabe ela vá ao lançamento”. Bati na porta da tal casa que eu conhecia mas, oh, tristeza, a Regina não morava mais lá. “Mas olha, ela mora nessa casa aqui ao lado”. Essa de agora era mais moderna, mais ampla, mais bonita. A maior festa rolando. Casa cheia de gente. Tocamos a campainha. Imaginem a cena e deixem pra rir depois porque a história tem que continuar. Alguém veio atender, eu disse que queria entregar um livro pra Regina. A pessoa foi lá dentro e minutos depois Regina apareceu.
“Oi Regina, eu sou a Ivana, estou lançando esse livro de poesia, queria te dar de presente. Tem também o convite do lançamento…”
“Ah, sim, claro, que livro lindo”, ela disse já com o presente em mãos.
“Eu sou super sua fã. Adoro Malu Mulher. Até te escrevi uma carta outro dia dizendo ….”
“Ivana!!! Claro! Eu me lembro da sua carta. Entra aqui” e foi nos levando pra dentro daquela casa maravilhosa onde estava acontecendo o casamento da irmã dela!!! Chamou a mãe e me apresentou: “essa é a Ivana que escreveu uma carta linda pra mim”.
O Aidar, apatetado, não entendia nada. Eu tratei de ficar à vontade. Bebemos, comemos, fomos filmados. Regina estava encantada com uma máquina de vídeo que acabara de ganhar e filmava todo mundo. Foi a primeira vez que eu vi uma “filmadora de videotape”. Ficamos ainda um pouco por ali e fomos embora felizes da vida.
Ela não foi ao lançamento, mas em dezembro me mandou essa carta maravilhosa que eu guardo até hoje como joia de inestimável valor.
Então, a Regina Duarte é ou não é uma mulher maravilhosa???